domingo, 7 de junho de 2009

Estádios do Desenvolvimento



Na teoria Epistemologia Genética piagetiana (1896-1980) o conhecimento se origina por um processo de equilibração e de abstração reflexionante. Segundo Becker:
O mundo do objeto fornece o conteúdo (assimilação), o mundo do sujeito cria novas formas (acomodação), a partir das formas dadas (reflexos) na bagagem hereditária. Posteriormente, as próprias formas, construídas por este processo de abstração reflexionante, transformam-se em conteúdos a partir de cuja assimilação constroem-se novas e mais poderosas formas. É a ação do sujeito que constrói este novo e fascinante mundo: o mundo do conhecimento – como forma e como conteúdo (BECKER, 2001a, p. 20).

A definição proposta por Piaget em relação à aprendizagem abrange dois sentidos: o sentido estrito, cuja aprendizagem acontece na medida em que um resultado (conhecimento ou atuação) é adquirido em função da experiência” e o sentido amplo, no qual ocorre a “união das aprendizagens s. str. e desses processos de equilibração” (PIAGET, 1974, p.54).
Convém lembrar que no minucioso trabalho de pesquisa longitudinal de Inhelder, Bovet e Sinclair, os resultados apresentados a partir das situações de aprendizagem estão intimamente ligados “ao nível de partida de cada um dos sujeitos” (INHELDER, BOVET e SINCLAIR, 1977, p.259), ou seja, o aproveitamento das situações de aprendizagem depende das estruturas já construídas até aquele momento e não, unicamente, da estimulação do meio, como quer o empirismo. O resultado desta pesquisa apresenta a definição de aprendizagem numa concepção interacionista, na qual estabelece relações entre desenvolvimento e aprendizagem, afirmando que: “Aprender é proceder a uma síntese indefinidamente renovada entre a continuidade e a novidade”. “A novidade trazida pela aprendizagem e a continuidade garantida pelo desenvolvimento”(BECKER, 2001a, p.25-6).
Nesse processo, percebe-se a síntese continuada entre as condições estruturais do sujeito (continuidade) e as condições do meio, físico ou social (novidade): “A assimilação funciona como um desafio sobre a acomodação a qual faz originar novas formas de organização” (BECKER, 2001, p. 20-1).
Em relação ao desenvolvimento Piaget (1983, p.236), afirma que ocorre de forma que as aquisições de um período sejam necessariamente integradas nos períodos posteriores. É o “caráter integrativo” segundo o qual “as estruturas construídas numa idade dada se tornam parte integrante das estruturas da idade seguinte”. Ou seja, a partir do nascimento, inicia-se o desenvolvimento cognitivo e todas as construções do sujeito servem de base a outras.
Para Piaget, as idades de ocorrência dos estádios são extremamente variáveis de um sujeito a outro. A respeito das idades, Piaget (1972, p.200) diz:
"Em determinada população podemos caracterizar os estádios por uma cronologia,mas esta é extremamente variável; depende da experiência anterior dos indivíduos,e não apenas de sua maturação; depende, principalmente, do meio social,que pode acelerar ou retardar o aparecimento de um estádio, ou mesmo impedir sua manifestação."


PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
Estágio sensorio-motor, mais ou menos de 0 a 2 anos: a atividade intelectual da criança é de natureza sensorial e motora. A principal característica desse período é a ausência da função semiótica, isto é, a criança não representa mentalmente os objetos. Sua ação é direta sobre eles. Essas atividades serão o fundamento da atividade intelectual futura. A estimulação ambiental interferirá na passagem de um estágio para o outro.
Estágio pré-operacional, mais ou menos de 2 a 6 anos: (Biaggio destaca que em algumas obras Piaget engloba o estágio pré-operacional como um subestágio do estágio de operações concretas): a criança desenvolve a capacidade simbólica; "já não depende unicamente de suas sensações, de seus movimentos, mas já distingue um significador(imagem, palavra ou símbolo) daquilo que ele significa(o objeto ausente), o significado". Para a educação é importante ressaltar o caráter lúdico do pensamento simbólico.Este período caracteriza-se: pelo egocentrismo: isto é, a criança ainda não se mostra capaz de colocar-se na perspectiva do outro, o pensamento pré-operacional é estático e rígido, a criança capta estados momentâneos, sem juntá-los em um todo; pelo desequilíbrio: há uma predominância de acomodações e não das assimilações; pela irreversibilidade: a criança parece incapaz de compreender a existência de fenômenos reversíveis, isto é, que se fizermos certas transformações, somos capazes de restaurá-las, fazendo voltar ao estágio original, como por exemplo, a água que se transforma em gelo e aquecendo-se volta à forma original.

Estágio das operações concretas, mais ou menos dos 7 aos 11 anos: a criança já possui uma organização mental integrada, os sistemas de ação reúnem-se em todos integrados. Piaget fala em operações de pensamento ao invés de ações. É capaz de ver a totalidade de diferentes ângulos. Conclui e consolida as conservações do número, da substância e do peso. Apesar de ainda trabalhar com objetos, agora representados, sua flexibilidade de pensamento permite um sem número de aprendizagens.

Estágio das operações formais, mais ou menos dos 12 anos em diante: ocorre o desenvolvimento das operações de raciocínio abstrato. A criança se liberta inteiramente do objeto, inclusive o representado, operando agora com a forma (em contraposição a conteúdo), situando o real em um conjunto de transformações. A grande novidade do nível das operações formais é que o sujeito torna-se capaz de raciocinar corretamente sobre proposições em que não acredita, ou que ainda não acredita que ainda considera puras hipóteses. É capaz de inferir as conseqüências.
Tem início os processos de pensamento hipotético-dedutivos.


BIBLIOGRAFIA

INTERNET. http://www.centrorefeducacional.com.br/estagios.html. Visitado em 4/05/2009.
MARQUES, Beatriz Iwaszko. Epistemologia Genética e Construção do Conhecimento. Texto extraído de: MARQUES, Tania. Do Egocentrismo à Descentração: a docência no ensino superior. Porto Alegre: UFRGS, 2005. Tese de doutorado.
- PIAGET, Jean. Os estágios do desenvolvimento intelectual da criança e do adolescente. In: Problemas de Psicologia Genética. São Paulo: Abril Cultural, 1983. Coleção Os Pensadores.
- PIAGET, Jean. O desenvolvimento mental da criança. In: Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense, 1986.

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