segunda-feira, 8 de novembro de 2010

APRENDIZAGENS DO SEMESTRE 2009/2


Na Inerdisciplina Educação de Jovens e Adultos, identificamos as funções da EJA como expressa o Parecer 11/200 CNE/ CEB: a primeira função é a reparadora, que visa o resgate da dignidade dos educandos que não tiveram condições sócio/culturais de permanecer na escola, com o objetivo de elevar a auto-estima e proporcionar a entrada destes sujeitos no circuito dos direitos civis. A segunda é a equalizadora, que prima pela igualdade de oportunidades, pela reentrada no sistema educacional, bem como, a possibilidade de oferecer aos sujeitos novas inserções no mundo do trabalho e na vida social. A terceira função é a permanente, objetivando a qualificação de vida e a atualização dos conhecimentos. Assim percebemos a importância de promover a autonomia dos jovens e adultos para a manifestação de seus pensamentos, atualização de conhecimentos, desenvolvimento de habilidades e troca de experiências para que estes educandos tenham acesso a novas formas de trabalho e cultura.
Além disso, constatamos que o professor deve estabelecer um diálogo crítico e proporcionar ao aluno o contato com linguagens e discursos diversos que ampliem os seus horizontes e levem os educandos a confrontarem suas idéias, suas certezas e dúvidas a fim de desenvolverem uma sintonia, uma confiança compartilhada no compromisso com a melhoria da qualidade de vida humana. Essa proposta vem ao encontro do pensamento de Henry Giroux (1990) que defende a pedagogia crítica. Para o autor, olhar a educação contemporânea como uma forma de política cultural significa perceber as dimensões sociais, cultural, política e econômica da vida cotidiana dos envolvidos no processo de escolarização, sabendo que neste cenário se estabelecem relações de poder e de conhecimento.
Identificamos, também, que se faz necessário no processo de alfabetização da EJA considerarmos vários aspectos como a cultura local, os processos históricos de exclusão da comunidade escolar, o funcionamento psicológico dos educandos e a condição socioeconômica destes grupos. Nesse sentido, Paulo Freire nos deixa um legado que conduz a uma prática pedagógica dialógica e libertadora, que propicia ao aluno a construção de sua autonomia e criticidade, que possibilita sua inserção no mundo e sua emancipação social, pois, segundo Freire: “Desde o começo, na prática democrática e crítica, a leitura do mundo e a leitura da palavra estão dinamicamente juntas” ( FREIRE, 1986, p. 34). Entendemos que a escola, mesmo sendo um espaço formal, não pode ser um lugar indiferente às realidades que permeiam a vida de seus educandos e educadores. Sendo assim, ela precisa dar voz e vez a estes sujeitos, mostrar-se sensível às suas limitações, incentivá-los, ajudá-los a transformar suas realidades e lutar por um futuro melhor em busca de seus sonhos, valorizando suas conquistas.
Na interdisciplina Linguagem e Educação vimos que se faz necessária a ressiginificação de determinadas práticas pedagógicas– reconhecidas como tradicionais, construtivistas e letradas para formas de letramento e alfabetismo, contextualizadas culturalmente. A escola deve reconhecer o caráter pedagógico da TV, da literatura infantil, dos jogos, dos artefatos culturais, como lápis, canetinhas, papel, cadernos, borracha, livrinhos de história, jogos com letras, palavras, histórias e números, etc.,dos portadores de texto e de todos esses materiais que fazem parte do cotidiano de algumas crianças, cujo uso não depende só do domínio da leitura e escrita, mas envolve o domínio e uso de novas tecnologias, bem como desenvolvimento de destrezas e habilidades exigidas para a sua exploração. Entender que a interação com tais artefatos culturais não se restringe apenas a grupo sociais economicamente favorecidos, pois o acesso a tais materiais e recursos se tornam cada vez mais facilitados . Não devemos subestimar o conhecimento prévio de nossos alunos com práticas restritas de alfabetização e letramento.
Daí a importância de iniciarmos o planejamento das aulas cientes de que o aluno já traz consigo experiências de letramento vivenciadas na família, na igreja, enfim em situações diversas de leitura e escrita no convívio social (KLEIMAN,2006) .Devemos partir de alguns questionamentos : O que meus alunos já sabem? O que ainda não conhecem? O que, como e quando ensinar? Com base nas respostas, podemos propor atividades desafiadoras que façam sentido para os estudantes. O planejamento pede acompanhamento constante, pesquisa e criatividade na sua elaboração para que desperte motivação e interesse dos alunos. Desta forma o ato de planejar direciona as ações dos sujeitos, é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua organização e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino aprendizagem.
Em relação aos dos estudos da Interdisciplina de Libras compreendi que a Língua Brasileira de Sinais é como um idioma, é a comunicação pelas mãos, é uma linguagem natural, que é captada pela visão, pelas expressões faciais e pelos movimentos corporais e que também é um dos aspectos extremamente importantes da cultura surda ,para interação entre pessoas . A linguagem é a forma principal de expressão de pensamentos e o instrumento psicológico essencial à constituição das funções psicológicas superiores (Vygotski, 1998). Nesse sentido, a aquisição de uma linguagem, no caso a de sinais, é de extrema importância para o desenvolvimento de uma identidade pessoal surda. Como ser social, os surdos precisam identificar-se com uma comunidade social específica e, com ela, interagir de modo pleno, ou seja, precisam de uma identidade cultural, e, para isso, não basta uma língua e uma forma de alfabetização, mas, sim, um conjunto de crenças, conhecimentos comuns a todos.
A Pedagogia Surda defende a existência da LIBRAS em sala de aula, bem como a criação de espaços para os surdos desenvolverem sua identidade e cultura. Desta forma percebemos que os surdos precisam intensificar a sua luta pelo reconhecimento da cultura surda, pela valorização das escolas para surdos e pelo direito de ter professores surdos atuando junto aos alunos.
Enfim, ao refletir sobre as aprendizagens deste semestre entendemos que o comportamento humano é uma conquista feita em conseqüência do processo da sua integração no meio cultural, que varia em função da sociedade a que pertence. Não só, a nossa herança genética e biológica, nos torna reconhecidamente humanos, como também as dimensões sociais e culturais. São estas dimensões que nos permitem compreender os sujeitos e a forma como se comportam. Segundo Paulo Freire "Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo." O Homem deve à cultura a capacidade de ultrapassar os seus instintos, tendo, desta forma, o poder de optar, escolher qual o caminho que considera melhor, segundo os valores em que se apóia, depois de analisar, racionalmente, a realidade.
REFERÊNCIAS
CURY, Carlos Roberto Jamil. Políticas públicas e história da EJA. Parecer CEB 11/2000.

DALLA ZEN, Maria Isabel; TRINDADE, Iole Faviero. Leitura, escrita e oralidade como artefatos culturais. In: XAVIER, Maria Luisa M. (Org.). Disciplina na escola: enfrentamentos e reflexões. Porto Alegre: Mediação, 2002.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1986.
__________.Conscientizando – Teoria e Prática da Libertação. São Paulo, Moraes, 1980.

__________Pedagogia do oprimido. São Paulo, Paz e Terra, 1996.

GIROUX, Henry. Alfabetização e a pedagogia do empowerment político. In: FREIRE, Paulo e MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura da palavra, leitura do mundo. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p. 1-27.

LANE, Harlan. A Máscara da Benevolência: a comunidade surda amordaçada. Lisboa: Instituto Piaget, 1992.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e adultos como sujeitos do conhecimento e aprendizagem. Trabalho apresentado na XXII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1999.
VYGOTSKY, Liev Semiónovitch. A Formação Social da Mente: o Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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